quinta-feira, 30 de março de 2017



DESPERTAR PARA VIVER UM NOVO DIA

Pe. José de Oliveira da Silva

Dela viemos e a ela voltaremos

Entramos neste mundo com a vocação e missão de conhecer e amar o chão que pisamos e o berço do qual aparecemos e um dia retornaremos no silencio da noite.
Ao despertar de um novo dia recebemos a ordem de “Cultivar e guardar a Criação” Gn 2,15. Que o Espírito nos desperte e nos conduza pelos caminhos da vida e nos dê a necessária energia para que respondamos a tão grande confiança.
A Quaresma faz parte do Ano Litúrgico, assim como o Tempo do Advento é tempo de preparação para a Celebração do Natal do Senhor, a Quaresma é tempo de preparação para a celebração da Páscoa da Ressurreição do Senhor Jesus. Na celebração do Tríduo Pascal, ponto central da fé cristã, razão de tanto empenho e apelo a nossa conversão.
É um tempo que se cauteriza pelo convite a conversão, a oração, o Jejum e a esmola (solidariedade: coleta de domingo de Ramos/Quinta feira Santa. Coleta para terra Santa). Para melhor viver este espírito quaresmal, a Igreja assumiu como tema para campanha da Fraternidade: BIOMAS BRASILEIROS E DEFESA DA VIDA, Cultivar e guardar a Criação, (Gn 2,15).
A criação não é nossa, é de Deus.  Nós somos convidados a cuidar, guardar, o que nos convence da importância do tema da campanha da fraternidade. Para nós não basta saber o nome dos seis Biomas Brasileiros, é preciso identificar as vidas presentes ai em cada um deles e identificando avançar em organizações que respeite e promova a obra do Criador.
Acolhendo a Palavra de Deus que nos chama à vocação ao cuidado com a vida, nos pede também conversão, olhando para a história aparece que o convite à conversão aparece depois da ordem de guardar e cuidar da Criação. Temos, pois que rezar e pedir perdão pela as agressões ao meio ambiente e as vidas ai presente em cada Bioma, mas sobre tudo precisamos pedir as luzes do Espírito Santo para que possamos progredir no zelo pela casa comum, conforme nos pede o Papa Francisco. 
É o Espírito de Cristo presente na Igreja que nos desafia a reconhecer as vidas e as culturas presentes nos Biomas brasileiros, bem como o apelo do Papa Francisco para que cuidemos com maior carinho da casa comum.
Sem o reconhecimento e respeito pelas vidas e expressões culturais e religiosas é impossível cuidar e zelar da casa comum.
Olhando a realidade de nossa história alguns pode até sentirem-se decepcionados, mas é preciso lembrar que em toda história, Deus sempre se lembra de seu povo e para testemunhar com maior profundidade o seu amor por nós, entregou não só a criação em nossas frágeis mãos, mas também seu próprio Filho Jesus Cristo Nosso Senhor.
Em Cristo toda criação ganha novo sentido e a própria historia se torna lugar da revelação do amor de Deus por nos.
O encontro com Cristo Ressuscitado impulsiona a pessoa a avançar por aguas mais profundas em busca de parcerias para melhor conhecimento e identificação dos Biomas e das vidas ai presentes. Conhecendo com mais profundidade o chão onde pisamos e dispondo de coragem para alargar os horizontes, certamente teremos e aproveitaremos as possibilidades de tornar nossa sociedade mais humana e respeitadora da vida.
O cuidado com a casa comum exige de um lado a capacidade de dialogar e de caminhar com o diferente e do outro a necessidade de embarcar nas aventuras de novas experiências sem perder o foco de nossa vocação comum que é a de cuidar e guardar a criação, pois da qual somos parte.
Uma espiritualidade fundada e alimentada na espiritualidade do discipulado de Jesus nos abre para aproximação de outras espiritualidades, e nos permite acolher com respeito outras formas de orar, pois cultura e história também são obras do Criador.
Sabemos e cremos que a fé é dom de Deus, um dom destinado a crescer e o crescimento deste dom em nós, implica na abertura para acolher os ensinamentos, proposta e convite que Deus nos faz por diferentes meios e veículos de comunicação presente na Natureza, na historia nas culturas e agrupamentos sociais e de modo especial no grito e silêncios dos pobres e marginalizados, (Mt 25, 31-40).
Cuidar desta porção da obra do criador envolve e custa a vida, enquanto cristãos somos chamados a cuidar com carinho desta porção da criação, utilizando e guardando a criação, pois nela encontramos os bens necessários a nossa estadia neste chão que tocamos com nossos pés, apalpando com nossas mãos. Como é agradável capitar com uma simples máquina fotográfica as nuvens, num voou, olhar de lá de cima nossos rios, nossas florestas, nossas planícies e montanhas.
Entristece-nos, ver lá do alto tanta degradação da Natureza e até de pessoas humanas, pessoas exploradas, pessoas que morrem nas filas de hospitais sem atendimento dignos de pessoa humana, pessoas que desgastam suas vidas nos ônibus em busca do pão de cada dia. “Cultivar e guardar a criação”.
Nossa fé nossa esperança nos pede maior engajamento na busca de harmonização do ser e confiança no amor do Pai. Tudo isso exige envolvimento em promoção de atividades que promova ações fraternas com a vida e outras culturas, a luz do Evangelho. “O Criador nos ama de tal modo que nos agraciou com o dom cultivar e guardara criação”. Só um Deus Pai amoroso pode confiar seus bem nas mãos daquele que Ele mesmo criou para o louvor e glória de seu Nome.
Sonhamos com aquele dia em que cada pessoa ao despertar diante um novo amanhecer, tome consciência que é parte integrante da Natureza e que até o momento vive e se alimenta d’água, do ar, do fogo e da terá e que tudo lhe foi dado de presente, mas que tudo pertence ao criador. Por isso é também nosso dever cultivar e guardar a esperança em que naquele novo dia o sol brilhara para todos.
Que o Espírito de Caridade, fraternidade, amor e perseverança, experimentado e vivido pelo Mestre seja mais uma vez derramados sobre nós para que sejamos portadores de relações fraternas e solidaria em defesa das vidas presentes nos Biomas brasileiros.